Dicas da Matéria - 2ª parte

* 2ª parte das notas de aula do curso.

Edmund Gustav Albrecht Husserl (1859 — 1938): Matemático e filósofo alemão, conhecido como o fundador da fenomenologia.
o   Fenomenologia: Ciência dos fenômenos (fenômeno - logia), fundamentada estavelmente, voltada à análise e a descrição das essências. Método para voltar às próprias coisas. E isso em contraposição às construções desfeitas no ar e às descobertas casuais. em contraposição à aceitação de conceitos só aparentemente justificados e aos problemas aparentes que se impõem de uma geração a outra como verdadeiros problemas".
  A fenomenologia, portanto, é ciência de experiência, não, porém, de dados de fato.
  Ponto de partida: Dados indubitáveis, evidências estáveis - e com base neles construir edifícios filosóficos. "Sem evidência não há ciência" (Hr). Os limites da evidência apodítica representam os limites de nosso saber. Assim, é preciso buscar coisas manifestas, fenômenos tão evidentes que não possam ser negados.
1.       O conhecimento começa com experiência de coisas concretas existentes, de fatos (contingentes), que são apresentados aqui e agora.
  Conceitos importantes:
1.       Epoché: Suspensão de juízos – “Todas essas crenças, pois, devem ser postas entre parênteses”. O conhecimento das essências seria possível apenas se “colocamos entre parênteses” todos os pressupostos relativos à existência de um mundo externo. É preciso suspender o juízo sobre tudo o que não é apodítico (evidente) nem objeto de controvérsia até se conseguir encontrar aqueles "dados" que resistem aos reiterados assaltos da epoché (contemplação desinsteressada).
2.       Consciência: Imediatamente evidente, fundamento da realidade e resíduo fenomenológico que resiste aos continuados assaltos da epoché. Pois bem, para Husserl, o que resiste aos ataques da epoché, ou seja, o que não se pode pôr entre parênteses, é a consciência ou subjetividade. Aquilo cuja existincia é absolutamente evidente é o cogito com seus cogitata, a consciência a qual se manifesta tudo aquilo que aparece. O mundo, diz Husserl, C "constituído" pela consciência.
3.       Essência eidética: modos típicos como as coisas e os fatos se apresentam à consciência. Tais essências se tornam objeto de estudo se o pesquisador, estabelecendo-se na atitude de espectador desinteressado, liberta-se das opiniões preconcebidas e, sem se deixar envolver pela banalidade e pelo óbvio, saiba "ver" e consiga intuir (e descrever) aquele universal pelo qual um fato é aquilo e não outra coisa.
** → Mas quando um fato se apresenta a consciência, nós no fato captamos sempre uma essência. Vemos esta cor, que é um caso particular da essência cor; ouvimos este som, que é um caso particular da essência som. As essências são os modos típicos do aparecer dos fenômenos à consciência.
  Objetivo da fenomenologia: Descrever os modos típicos com os quais os fenômenos se apresentam à consciência Com base nisso, podemos compreender como a fenomenologia se distingue da análise psicológica ou da análise científica. Diferentemente do psicólogo, o fenomenólogo não manipula dados de fato, mas essências; não estuda fatos particulares, senão ideias universais; não se interessa pelo comportamento moral desta ou daquela pessoa, mas pretende conhecer a essência da moralidade e talvez ver se a moral é ou não fruto de ressentimento.
  Essências não são obtidas por abstração (como sustentavam os empiristas), mas por intuição eidética. Os fatos particulares, em suma, são casos de essências eidéticas: não abstraímos a ideia ou essência de triângulo da comparação de mais triângulos; mas este, aquele e aquele outro são todos triângulos porque casos particulares da ideia de triângulo. As essências eidéticas são, portanto, universais, conceitos que a consciência intui quando os fenômenos a ela se apresentam; e são exatamente estes universais ou objetos ideais que permitem o reconhecimento, a classificação e a distinção dos fatos particulares.
  Redução eidética: Intuição das essências, captação do aspecto invariável entre as diversas variações das propriedades. E nisso consiste a redução eidética, na intuição das essências, quando na descrição dos fenômenos que aparecem à consciência conseguimos colher seu aspecto invariável entre as diversas variações das propriedades.
  As proposições lógicas e matemáticas são juízos universais e necessários porque são relações entre essências. E sendo relações entre essências, as proposições lógicas e matemáticas não recorrem a experiência como fundamento de sua validade.
  Ontologias:
1.       Regional: Captação e descrição das essências (modalidades típicas com que aparecem à consciência) os fenômenos morais, por exemplo, ou os fenômenos religiosos.
2.       Formal: Lógica.
  Característica fundamental: Intencionalidade (atos psíquicos se referem sempre a um objeto). A consciência, portanto, é intencional. Como escreve Husserl, "a intencionalidade é o que caracteriza a consciência de modo significativo". Nossos atos psíquicos têm a característica de se referirem sempre a um objeto, pois sempre fazem aparecer objetos.
  Idealismo x Realismo: Não há pendência na controvérsia entre realismo e idealismo. O caráter intencional da consciência, em si mesmo não implica a concepção realista. Em outros termos: a consciência refere-se a outra coisa; isto, porém, não significa que essa outra intencionalidade da consciência deixa pendente a controvérsia entre realismo e idealismo.
  "Princípio de todos os princípios": "Toda intuição que apresenta originariamente alguma coisa é, por direito, fonte de conhecimento”; “tudo aquilo que se apresenta a nós originariamente na intuição (que, por assim dizer, se nos oferece em carne e osso) deve ser assumido assim como se apresenta, mas também apenas nos limites em que se apresenta".
o   A crise das ciências (da cientificidade): “As meras ciências de fatos criam meros homens de fato”. - última obra de fôlego de Husserl, na qual trabalhou até próximo da morte.
  Crítica ao naturalismo e o objetivismo:
1.       Pretensão pela qual a verdade científica é a única verdade válida
2.       Ideia a ela ligada de que o mundo descrito pelas ciências seria a verdadeira realidade.
3.       Ignoram os principais problemas humanos, como a existência; E Husserl traça a história dessa pretensão e dessa ideia, a começar por Galileu e Descartes. Mas, escreve ele, "na miséria de nossa vida [.. .] tal ciência não tem nada a nos dizer. Em princípio, ela exclui aqueles problemas que são os mais candentes para o homem, o qual, em nossos tempos atormentados, sente-se à mercê do destino; os problemas do sentido e do não-sentido da existência humana em seu conjunto".
•         Desenvolvimentos da Fenomenologia:
o   Rudolf Otto (1869-1937): O que se manifesta na experiência religiosa (numinosa, sagrada)?
  Sentimento de ser criatura: Sentimento de pura dependência a um sujeito fora do eu, inacessível.
  Sagrado: Mysterium tremendum. Mysterium nada mais indica além do oculto, do não - manifesto, do extraordinário e do incomum. O mysterium esta ligado ao mirum ou admirável.
  Homem religioso: cheio de "maravilhamento estupefato" diante do mistério religioso. O homem religioso é homem cheio de "maravilhamento estupefato" diante do mistério religioso, que ele experiência como "totalmente Outro": "o estrangeiro estranho é o que enche de estupefação, aquilo que esti além da esfera do usual, do compreensível, do falível e, por essa razão, 'oculto', absolutamente fora do ordinário e em contraste com o ordinário, enchendo, portanto, o espírito de surpresa desmesurada".
o   Santa Teresa Benedita da Cruz-O.Carm.-(1891-1942) - Edith Stein: Filósofa e teóloga alemã. De origem judia, converteu-se posteriormente ao catolicismo, tornando-se carmelita descalça. Primeira mulher a defender uma tese de Filosofia na Alemanha, foi discípula e depois assistente de Edmund Husserl. Faleceu aos 51 anos, no campo de concentração de Auschwitz. Em 11 de outubro de 1998, foi canonizada pelo papa João Paulo II, como Santa Teresa Benedita da Cruz.
  Problema da empatia (conhecimento da experiência de outrem): Como pode-se perceber a vivência de outra pessoa justamente por meio do processo cognoscitivo que é a empatia (Einfiihlung)? O que se quer saber é: "o que tal perceber é em si, e não por meio de quais caminhos seja possível chegar até ele".
1.       Empatia atua em três graus:
o   1º Verifica-se quando o vivido por outro "emerge improvisamente diante de mim" - quando sei, por exemplo, que meu amigo perdeu seu irmão;
o   2º Quando alguém é envolvido no estado de espírito do outro - quando, por exemplo, sinto-me envolvido na dor vivida por meu amigo ;
o   3º Se tem "a objetivação compreensiva do vivido explicitado", isto é, o vivido apresenta-se diante de mim não como envolvimento de espírito, mas muito mais como objeto de consciência.
2.       Na empatia não se tem, como no caso da lembrança, da expectativa ou da fantasia, a identidade do sujeito empatizante. Escreve Stein: "Enquanto vivo a alegria que é experimentada por outro, não percebo nenhuma alegria originária: ela não brota de modo vivo de meu Eu, nem tem o caráter de ter estado viva anteriormente como a alegria lembrada, muito menos como meramente fantasiada, isto é, privada de vida real, mas é precisamente o outro Sujeito aquele que experimenta de maneira viva a originariedade, embora eu não viva tal originariedade; sua alegria que brota dele é originária, embora eu não a viva como originária".
3.       Essência do processo empático: A experiência vivida não-originária é acompanhada por uma experiência vivida originária. "Em minha experiência vivida não - originária, eu me sinto acompanhado por uma experiência vivida originária, que não foi vivida por mim, mas se anuncia em mim, manifestando-se em minha experiência vivida não-originária. De tal modo chegamos por meio da empatia a uma espécie de atos experienciais "sui generis".
  Filosofia Cristã: Perfectum opus rationis - “Uma compreensão racional do mundo, só pode ser alcançada pela razão natural e sobrenatural conjuntamente”. A filosofia cristã procura designar "O ideal de um perfectum opus rationis, que tenha conseguido recolher em unidade tudo aquilo que se nos tornou acessível pela razão natural e pela Revelação".
1.       A filosofia deve ser aberta à teologia e pode ser integrada por esta.
2.       A razão não pode dar a verdade total e absoluta.
3.       "A tarefa mais elevada de uma filosofia cristã é justamente a de preparar o caminho para a fé". Isso foi feito de modo excelente por santo Tomas de Aquino.
  Fé: Virtude sobrenatural, que considera verdade aquilo que Deus revelou e ensinou por meio da Igreja, não pela razão, mas pela autoridade do próprio Deus (catecismo). "A fé é uma virtude sobrenatural pela qual, com a inspiração e com a assistência da graça divina, consideramos como verdadeiro aquilo que Deus revelou e ensinou por meio da Igreja, não pela verdade objetiva intrínseca, que poderemos conhecer mediante a razão natural, mas pela autoridade do próprio Deus que revela, que não pode se enganar nem enganar".
1.       Luz escura: Aceitação de conhecimentos que não possuem evidência intelectiva. Nós, portanto, acolhemos a verdade de fé com base no testemunho de Deus, e abraçamos assim "conhecimentos que não possuem evidência intelectiva". Esta é a razão pela qual a fé é chamada de "luz escura". A fé - afirma Edith Stein - "quer mais do que as verdades particulares sobre Deus, quer ele próprio, que é a Verdade, Deus, inteiro, e o acolhe sem ver, 'mesmo se é noite' ". Esta - comenta Stein - "é a mais profunda escuridão da fé, contraposta à eterna luz, a qual ela tende".
2.       Progresso do intelecto consiste no estabelecimento mais forte da fé (S. João da Cruz); A fé é trevas para o intelecto e, todavia, ela é um progredir, para além dos conhecimentos racionais, na direção da única Verdade. "[...] o progresso do intelecto consiste em estabelecer-se mais fortemente na fé, ou seja, em pôr-se sempre mais no escuro, uma vez que a fé é trevas para o intelecto". A fé é trevas para o intelecto e, todavia, ela é um progredir, para além dos conhecimentos racionais, na direção da única Verdade: "a fé está mais próxima da Sabedoria divina do que toda ciência filosófica e também teológica". Deus dá ao espírito criado a visão beatifica quando o une a si. No decorrer da vida terrena, escreve Stein, "a aproximação máxima desta meta altíssima é a visão mística".
  Essência da experiência mística: "Terra impraticável" e prefiguração da visão beatífica, caminho que não pode ser oferecido pela razão natural.


Para Edith Stein a pessoa é um indivíduo dotado de uma dignidade inegociável
Em entrevista a ZENIT o Dr. Juvenal Savian Filho, professor de filosofia da Universidade Federal de São Paulo, fala sobre o II Simpósio Internacional Edith Stein

Por Thácio Lincon Soares de Siqueira

BRASíLIA, 07 de Outubro de 2013 (Zenit.org) - No passado mês de Agosto, dos dias 26 ao 29, ocorreu em Salvador, BA, o II Simpósio Internacional Edith Stein. O primeiro Simpósio ocorreu em Fortaleza, em 2011.

O objetivo do Simpósio foi o encontro e o intercâmbio entre os pesquisadores brasileiros do pensamento de Edith Stein, bem como o trabalho com um especialista estrangeiro.

Em 2011, o simpósio contou com a presença de Angela Ales Bello, da Universidade Lateranense de Roma. Em 2013, contou com Francesco Alfieri, da Universidade de Bari (Itália), que deu a conferência inaugural e ministrou um minicurso de três dias. Nesse sentido, o simpósio contou com o apoio da CAPES, que visa tanto fortalecer os grupos de pesquisadores brasileiros, como a internacionalização dos trabalhos.

Em entrevista a ZENIT o Prof. Dr. Juvenal Savian Filho, professor de filosofia da Universidade Federal de São Paulo, nos fala mais sobre o pensamento de Edith Stein e o estudo da sua filosofia no Brasil.

***

ZENIT: O título do Simpósio fala do conceito de Pessoa na filosofia e nas ciências humanas. O que é a pessoa na visão de Edith Stein?

Dr. Juvenal: A pessoa é, em primeiro lugar, a unidade fundamental da experiência e ação humanas. Em vez de falar de indivíduo simplesmente, ela prefere falar de pessoa, mesmo em sua primeira fase de estudos, sob a orientação de Edmund Husserl, antes de converter-se ao cristianismo. Isso aponta para uma consideração do indivíduo como dotado de uma dignidade inegociável e não apenas como o elemento mínimo do agrupamento humano. À medida em que avançou em seus estudos, Edith retomou a definição clássica de pessoa, dada por Boécio de Roma (475-525) e retomada por Santo Tomás de Aquino, qual seja, “a substância individual de natureza racional”. Isso quer dizer, em linhas gerais, que cada indivíduo humano é a sede da experiência e da compreensão do mundo, bem como da ação livre. Em outras palavras, a experiência e a compreensão do mundo não provêm de alguma coletividade ou de alguma instância que estaria acima dos indivíduos e “conheceria” por eles ou determinaria seu conhecimento e sua ação. Ao contrário, cada pessoa é a instância em que se toma consciência do mundo e de onde nasce o sentido de sua própria ação. Esses elementos fundamentais compõem a dignidade de cada indivíduo humano, que é um valor em si mesmo. Falar de pessoa é ter fundamentalmente esses elementos em vista.

ZENIT: Qual a consequência de se colocar métodos, instituições, governos, por acima da pessoa?

Dr. Juvenal: A consequência é a arrogância e o totalitarismo, sob variadas formas (nos governos, mas também nas ciências, nas filosofias, nas artes, nas religiões). A arrogância leva a crer que se sabe o que é melhor para o outro, ainda que isso represente uma violência para ele. O totalitarismo consiste na falta de limites na atividade de um líder ou grupo que ocupa alguma forma de poder. Ambos os fenômenos podem ocorrer em planos maiores, como os governos e Estados, mas também em planos menores, como na prática das relações entre os indivíduos, na produção do conhecimento etc. Se não assumimos um ponto de partida comum, não é possível evitá-los. E esse ponto de partida comum só pode ser a valorização incondicional de cada indivíduo humano, com base em sua natureza de valor em si mesmo. Trata-se da dignidade da pessoa humana.

Mesmo uma religião (que pretende, em princípio, anunciar o que é bom para o ser humano) pode ser arrogante e totalitária. É o que ocorre quando o anúncio religioso é feito sem levar em conta a experiência do interlocutor, numa desvalorização completa do que ele vive, como se estivesse inteiramente no erro por não partilhar a mesma fé.

Filósofos, cientistas e artistas, quando desconsideram o outro, numa atitude de desprezo, violentam-no e mostram-se também totalitários. Por outro lado, em nome da dignidade humana também não podemos sobrepor às dinâmicas coletivas os interesses de grupos e indivíduos. Em nome da dignidade humana, não convém causar empecilhos à ação dos Estados quando eles se esforçam honestamente por representar as mais variadas experiências humanas e garantir tolerância e respeito incondicional às diferenças individuais e grupais. É uma relação tensa, que exige muita prudência e sabedoria, pois o melhor caminho para a solução das dificuldades é o respeito pela dignidade pessoal do outro. Edith Stein, em seu livro sobre o Estado, trata de maneira excelente esses temas.

ZENIT: Que outro elemento de Edith Stein poderia ajudar o mundo de hoje?

Dr. Juvenal: Em correlação direta com o tema da experiência individual (humana), uma contribuição de extrema atualidade dada por Edith é a descrição da pessoa humana como um ser de dimensões físicas, psíquicas e espirituais. Edith não faz essa descrição com base em argumentos de autoridade, mas levou em conta a experiência sua e de pessoas próximas, sob a iluminação das ciências (inclusive elementos da psicologia e da psicanálise da época, do darwinismo, da física quântica nascente etc.) e de diferentes filosofias (o idealismo alemão, o Romantismo, a literatura, a fenomenologia, o pensamento medieval). Sua orientação fundamental era a fenomenologia, mas Edith operava com vários referenciais, o que lhe possibilitou evitar uma valorização excessiva de algum dos componentes do ser humano. Ela sobretudo evita um dualismo corpo-espírito. Edith via mais coerência em descrever o ser humano em termos de uma dualidade na unidade da pessoa. Muitos outros elementos do pensamento steiniano poderiam ser evocados como contribuições para o mundo de hoje (a concepção de educação e formação, a defesa das ciências humanas, a identificação de uma alma especificamente feminina, a valorização da mulher por ela mesma e não em função simplesmente do homem, uma nova concepção da feminilidade e da masculinidade, uma releitura da teoria das espécies, uma visão integradora da experiência religiosa etc.). Edith Stein, por sua simplicidade e honestidade intelectual, tratou de forma original de muitos temas. Há muitos aspectos de seu pensamento a serem redescobertos. Do ponto de vista mais acadêmico-universitário, Edith ainda tem muito a ensinar sobre a história da fenomenologia nascente, sobretudo referente aos anos 1910-1930 (edição de textos de Husserl, relação com Heidegger etc.).

ZENIT: A fenomenologia é conhecida e estudada nas Universidade brasileiras?

Dr. Juvenal: A fenomenologia é estudada há bastante tempo nas universidades brasileiras, em primeiro lugar, por sua importância histórica, mas também pelo modo como ela fecunda formas de pensamento ainda hoje. Definitivamente, não é razoável crer que Husserl foi o último filósofo da “subjetividade”, e que, depois de Frege e Wittgenstein tudo virou uma “questão de linguagem”. Sustentar essa visão é algo já ultrapassado nos últimos anos, ao menos pelos bons historiadores da filosofia. Assim, há várias universidades brasileiras em que se estuda seriamente o pensamento fenomenológico, sobretudo de Edmund Husserl, Maurice Merleau-Ponty e Emmanuel Lévinas. Também Michel Henry tem recebido especial atenção em algumas universidades, além de Jan Patocka. Muitos pesquisadores poderiam ser citados por terem beneficiado os estudos fenomenológicos na universidade brasileiras. Dentre eles, os nomes mais conhecidos são, sem dúvida, Bento Prado Júnior (✝ 2007) e Carlos Alberto Ribeiro de Moura. Quanto ao estudo específico de Edith Stein, sua entrada na universidade se deu há cerca de 20 anos, quando a Profa. Aparecida Jacinta Turollo Garcia (ASCJ) iniciou, com grande generosidade, um trabalho de divulgação do pensamento steiniano. Ela é quem organiza, há mais de uma década, visitas anuais da Profa. Angela Ales Bello ao Brasil.

ZENIT: Uma pessoa interessada pela fenomenologia de Edith Stein deveria começar por onde o seu estudo aqui no Brasil? Existem boas fontes?

Dr. Juvenal: No que diz respeito às fontes, infelizmente as obras de Edith ainda não estão traduzidas em português. A ciência da cruz (Edições Loyola) é a única obra integralmente traduzida. Alguns textos sobre a mulher e a formação humana foram traduzidos e publicados no volume A mulher (EDUSC). Há uma meditação sobre o Natal também publicada (EDUSC), além da peça de teatro em que Edith imagina um encontro entre Edmund Husserl e Tomás de Aquino (Revista Mirabilia, texto disponível na Internet). Salvo engano, é só. Isso não representa nem 20% da produção de Edith. Os brasileiros precisam ler nas traduções espanhola, italiana, inglesa e francesa, quando não podem ler os originais em alemão. Isso é uma dificuldade séria, porque nem sempre essas traduções são boas. Quanto a encontrar pesquisadores que trabalham sobre o pensamento de Edith Stein, é possível encontrá-los em várias universidades: para o campo específico da filosofia, há pesquisadores na Unifesp, UECE, UFSC, UFRB; para temas de educação, UFCE, UECE, UFMG; para temas de psicologia, UFMG, UFU, USP. Interessados podem escrever-me e eventualmente indicarei pesquisadores ligados às diferentes áreas! Meu contato é juvenal.savian@unifesp.br


•         Martin Heidegger (1889—1976): Filósofo alemão; é um dos pensadores fundamentais do século XX quer pela recolocação do problema do ser e pela refundação da Ontologia, quer pela importância que atribui ao conhecimento da tradição filosófica e cultural. Influenciou muitos outros filósofos, dentre os quais Jean-Paul Sartre. Inicialmente quis ser padre e chegou mesmo a estudar teologia na Universidade de Freiburg. Depois, estudou filosofia na mesma Universidade, com Edmund Husserl. Ser e Tempo é dedicado a Husserl, que posteriormente não aprovou a obra, o que ocasionou o rompimento entre ambos. Heidegger, no entanto, afirmava trabalhar com o método fenomenológico. Heidegger inscreveu-se no partido Nazi (NSDAP) em 1 de Maio de 1933 (ano da chegada ao poder de Adolf Hitler), tendo posteriormente sido nomeado reitor da Universidade de Freiburg, pronunciando o discurso A Auto-afirmação da Universidade Alemã. Porém, pouco depois se demitiu do cargo de reitor, sendo pressionado por outros professores da universidade, que tentavam boicotar o Partido Nazista para o qual Heidegger emprestou sua credibilidade. Martin Heidegger teve como aluna a judia Hannah Arendt, que se tornou também uma importante filósofa do século XX, com quem se envolveu amorosamente.
o   Ser e tempo (1927) – 1º Heidegger – Fenomenologia: Analítica existencial sobre aquele ente (o homem) que se propõe a pergunta sobre o sentido do ser.
o   O SER:
  Objetivo: ontologia capaz de determinar adequadamente o sentido do ser. "a elaboração concreta do problema do sentido do 'ser' ".
  Da-sein (ser aí): Homem que se coloca a pergunta sobre o sentido do ser e que já está sempre em uma situação, jogado nela. "esse ente, que nós mesmos já somos sempre, e que tem, entre as outras possibilidades de ser, a de buscar, nós o indicamos com o termo Ser-aí (Dasein)". Considerado em seu modo de ser, o homem é precisamente Da-sein, ou seja, ser-aí. E o "da" (aí) indica o fato de que o homem está sempre em uma situação, lançado nela e em relação ativa com ela.
1.       O Dasein não pode ser reduzido a objeto puro e simples no mundo. O Ser-aí jamais é uma simples presença, uma vez que ele é precisamente aquele ente para o qual as coisas estão presentes.
2.       "A 'natureza', a 'essência' do Ser-aí consiste em sua existência". A essência da existência é dada pela possibilidade, que não é possibilidade lógica vazia nem simples contingência empírica.
3.       O Dasein é “poder ser”, que o possibilita a atuar, projetar. E, consequentemente, o homem pode escolher-se, isto é, pode conquistar-se ou perder-se. Neste sentido, o Ser-aí (ou homem) é "o ente que depende de seu ser" e "a existência é decidida, no sentido da posse ou da ruína, somente por cada Ser-aí individual".
  Analítica existencial: A existência é essencialmente transcendência (ultrapassagem, a própria “liberdade”).  A transcendência institui o projeto ou esboço de um mundo: ela é um ato de liberdade - aliás, para Heidegger, é a própria liberdade. Entretanto, se é verdade que qualquer projeto radica-se em um ato de liberdade, também é verdade que todo projeto limita imediatamente o homem que se encontra dependente das necessidades e limitado pelo conjunto daqueles utensílios que é o mundo.
1.       Ser-no-mundo (traço típico do homem): O homem está no mundo e deve, portanto, fazer do mundo o projeto das ações e dos comportamentos possíveis do homem. Mas, como o homem é constitutivamente projeto, o mundo – diferentemente do que pensava Husserl – não é originariamente uma realidade a contemplar, e sim muito mais um conjunto de instrumentos "para" o homem, um conjunto de utensílios, ou seja, de coisas a utilizar, à mão, e não de coisas a contemplar como presentes. A existência é poder-ser, projeto, transcendência em relação ao mundo: estar-no-mundo, portanto, significa originariamente fazer do mundo o projeto das ações e dos comportamentos possíveis do homem.
o   O homem transformando o mundo, ele forma e transforma a si mesmo.
o   Coisas (substâncias): Transforma-as em “utensílios”, pois o ser das coisas equivale ao seu ser utilizadas pelo homem. O homem compreende uma coisa quando sabe o que fazer dela, do mesmo modo como compreende a si mesmo quando sabe o que pode fazer consigo, isto é, quando sabe o que pode ser.
o   O homem deve cuidar das coisas necessárias a seus projetos. Estar-no-mundo, pois, significa para o homem cuidar das coisas necessárias a seus projetos, e ter a ver com uma realidade-utensílio (que limitam o Dasen), meio para sua vida e para suas ações (tese muito utilizada por ecologistas).
2.       Ser-com-os-outros: Assim como o Ser-no-mundo, é um existencial. Não há "um sujeito sem mundo" e, ao mesmo tempo, não existe "um eu isolado sem os outros". Os outros não são inferidos como outros "eus"; eles são dados, ao invés, como outros "eus", desde a origem. Sendo a existência constitutivamente abertura, desde a origem os outros "eus", como tais, participam do mesmo mundo no qual eu vivo.
o   Expressa-se pelo “cuidar dos outros” (estrutura basilar de toda possível relação entre os homens). Assim como o ser-no-mundo do homem se expressa pelo cuidar das coisas, do mesmo modo o seu ser-com-os-outros se expressa pelo cuidar dos outros, coisa que constitui a estrutura basilar de toda possível relação entre os homens.
o   Coexistência inautêntica: Subtrai-se o outro de seus cuidados;
o   Coexistência autêntica: procura-se ajudá-los a conquistar a liberdade de assumir seus próprios cuidados.
3.       Ser-para-a-morte: Existência autêntica. A existência autêntica, portanto, é um ser-para-a-morte. Somente compreendendo a impossibilidade da morte como possibilidade da existência, e somente assumindo essa possibilidade com decisão antecipada, o homem encontra seu ser autêntico.
o   Queda do homem (Dejeção): É possível no plano das coisas do mundo, isto é, no plano “ôntico” ou “existentivo” (inautenticidade e banalidade das vicissitudes quotidianas). O Ser-aí é e tem de ser; isto é, o homem se encontra sempre em uma situação e enfrenta essa situação graças a seu projetar. Mas, quando volta seus "cuidados" para o plano "ôntico" ou "existentivo", isto é, ao plano dos entes em sua factualidade, o homem permanece na existência inautêntica. Nesta, o homem manipula as coisas, utiliza-as e estabelece relações sociais com outros homens. Todos esses projetos, porém, em uma espécie de vertigem, atiram o homem para o nível dos fatos. A utilização das coisas se transforma em fim em si mesma. A linguagem se transforma então no palavrório da existência anônima subjacente ao axioma "as coisas são assim porque assim se diz".
o   Existência anônima: O mesmo que a existência inautêntica, procura encher o vazio que a caracteriza, recorrendo continuamente ao novo: ela se afoga na curiosidade e termina no equívoco. E, por fim, além do palavrório e da curiosidade, a terceira característica da existência inautêntica é o equívoco: a individualidade das situações, em uma existência devorada pelo palavrório e pela curiosidade, desvanece na neblina do equívoco. A existência inautêntica é existência anônima: é a existência do "se diz" e do "se faz".
o   Consciência: Chama novamente à existência autêntica e que remete o homem do plano ôntico ao ontológico, do existentivo ao existencial. Entre as várias possibilidades, há uma diferente das outras, a qual o homem não pode escapar: trata-se da morte. Com efeito, posso decidir dedicar minha vida a um objetivo ou a outro, posso escolher uma profissão ou outra, mas não posso deixar de morrer. E então, quando a morte torna-se realidade, não há mais existência.
  Morte como possibilidade permanente da existência e que mostra a nulidade de todo projeto. Ela é a possibilidade de que todas as outras possibilidades se tornem impossíveis, sendo ela mesma uma possibilidade inescapável.
  A morte proíbe que o Dasen se perca entre os objetos.
o   Apenas a compreensão da possibilidade da morte como impossibilidade da existência faz o homem reencontrar seu ser autêntico.
  Sentido autêntico da existência: “Viver para a morte”, deve-se ter a coragem de olhar de frente a possibilidade do não-ser e aceitar a nossa própria finitude e negatividade. O "viver-para-a-morte" nos afasta do estar submerso nos fatos e nas circunstâncias. A antecipação da morte (que não significa de modo algum realizá-la pelo suicídio) dá sentido ao ser dos entes, mediante a experiência do seu nada possível.
1.       Angústia: Sentimento do ser-para-a-morte, pondo o homem diante do nada, do nada de sentido. E é a essa aceitação que nos conclama a voz da consciência: a aceitação da nossa própria finitude e negatividade. Em outros termos, o homem que vive autenticamente continua a viver a vida, por assim dizer, banal de seu tempo e de seu povo, mas a vive com todo aquele afastamento próprio de quem, com a experiência antecipadora da morte, teve a revelação do nada dos projetos humanos e da existência humana.
o   A existência autêntica é a existência angustiada, tornando todos os projetos equivalentes. Vê a insignificância de todos os projetos e fins do homem. Essa insignificância torna todos os projetos equivalentes. Pondo o homem diante da equivalente nulidade dos fins, a angústia dá ao individuo a possibilidade de aceitar o próprio tempo e a ele permanecer fiel, ou seja, assumir como próprio o destino da comunidade humana a qual pertence, em uma espécie de amor fati (amar o necessário, aceitar este mundo e amá-lo (atitude do super-homem)).
2.       "A existência anônima e banal não tem a coragem da angústia diante da morte". A existência inautêntica e anônima tem medo da angústia diante da morte. De modo que, para escapar à angústia, a existência anônima ocupa-se muito com as coisas e afunda no reino do se.
3. O medo é a angústia banalizada, que decaiu ao nível do mundo, tornando a existência inautêntica.

o   O TEMPO: As determinações do tempo (passado, presente e futuro) encontram seu significado em ser “fora de si” (êxtase – estar fora). Essas três determinações do tempo encontram seu significado em seu ser "fora de si": o futuro é um protender-se, o presente é estar preso às coisas e o passado é retornar à situação de fato para aceitá-la.
  Futuro: Sentido primário e determinação fundamental, pois “projetar-se-adiante para o “em-vista-de-si-mesmo” é característica essencial da existencialidade.
  Passado: Cuidado que antecipa as possibilidades e retorno à situação de fato.
  Presente: Tempo de ocupação com as coisas.
Tempo autêntico Tempo Inautêntico
•         Da existência autêntica;
•         Assume o futuro como um “viver para a morte” – que não permite ao homem viver envolvido pelas possibilidades mundanas;
•         No passado, não aceita passivamente a tradição, mas confiar nas possibilidades que a tradição nos oferece e reviver a possibilidade do homem que já foi;
•         O presente é o instante, que decide o seu destino. Em que o homem repudia o presente inautêntico (onde o homem é absorvido sem descanso pelas coisas a fazer) e decide seu destino.
•           •         Da existência inautêntica;
•         No futuro, se preocupa com o sucesso, êxito;
•         No passado, aceita passivamente a tradição;
•         No presente, é absorvido constantemente pelas coisas a fazer, não decidindo seu destino.
•         Ligado aos significados do tempo (databilidade). Por estar ligado às coisas do mundo.
•        

o   Reviravolta – O 2º Heidegger - Existencialismo: "A história do ser rege e determina toda condição e situação humana". “O homem deve ser o pastor do ser”.
  Auto-Revelação: Não se trata mais de analisar aquele ente que procura caminhos de acesso ao ser, mas sim o próprio ser e sua autorevelação.
  Crítica radical da metafísica clássica: A metafísica ocidental gerou o "esquecimento do ser";
1.       A análise do Dasen não revela o sentido do ser, e sim o nada da existência. A existência autêntica é o nada de todo projeto e o nada da própria existência. A análise do Ser-aí, isto é, daquele ente privilegiado que se propõe a pergunta sobre o sentido do ser, não revela o sentido do ser, e sim o nada da existência.
2.       A metafísica seria “física” absorvida pelas coisas, que esqueceu o ser e leva ao esquecimento desse esquecimento. De Aristóteles a Hegel e ao próprio Nietzsche, a metafísica clássica fez o que a analítica existencial mostrou ser impossível: procurou o sentido do ser indagando os entes. A metafísica identificou o ser com a objetividade, isto é, com a simples presença dos entes. Desse modo, ela não é metafísica, senão "física" absorvida pelas coisas, que esqueceu o ser e que, aliás, leva ao esquecimento desse esquecimento.
3.       A técnica, consequência dessa metafísica, leva ao esquecimento do ser, e a uma nova fé, a fé na técnica como domínio sobre tudo. A metafísica ocidental leva à técnica, que é o resultado natural daquele desenvolvimento pelo qual, esquecendo o Ser, o homem se deixou arrastar pelas coisas, tornando a realidade puro objeto a dominar e a desfrutar. E esse comportamento, que não se deterá sequer quando chega, como acontece hoje, a ameaçar as bases da própria vida, é o comportamento que se tornou onívoro (Que se alimenta indiferentemente de substâncias animais ou vegetais); trata-se de uma fé, a fé na técnica como domínio sobre tudo.
  Linguagem do ser:
1.       A linguagem do homem pode falar dos entes, mas não do ser. Por isso, a revelação do ser não pode ser obra de um ente, ainda que privilegiado como o Ser-aí, mas só pode se dar através da iniciativa do próprio ser.
2.       O homem não pode desvelar o sentido do ser - Aí reside a "reviravolta" do pensamento de Heidegger. Ele deve ser o pastor do ser e não o senhor do ente. E sua dignidade "consiste em ser chamado pelo próprio ser para ser o guarda de sua verdade".
3.       Elevação da filosofia: de sua deformação"humanista" até o "mistério" do ser, a seu desvelar-se originário.
4.       O ser se desvela na linguagem autêntica da poesia. A poesia deu nome às coisas e fundou o ser. Mas onde ocorre esse desvelar-se do ser? Diz Heidegger que o ser se desvela na linguagem, não na linguagem científica própria dos entes, ou na linguagem inautêntica do palavrório, e sim na linguagem autêntica da poesia. Escreve ele na Carta sobre o humanismo: "A linguagem é a casa do ser. E nessa morada habita o homem. Os pensadores são os guardiões dessa morada".
5.       Abandono (Gelassenheit) ao ser: Único comportamento correto. Na linguagem do poeta, não é o homem que fala, e sim a própria linguagem - e, nela, o ser. Consequentemente, a justa atitude do homem em relação ao ser é a do silêncio para ouvi-lo;
Liberdade e Verdade: O homem deve tornar-se livre para a verdade, concebida como desvelamento do ser.

•         O desenvolvimento do existencialismo: Linha filosófica dominante na Europa entre as duas guerras e considerada como moda nos dois decênios após a segunda guerra.
o   Direcionamento no “homem finito”, concreto, na individualidade de sua existência. Jogado no mundo, imerso e dilacerado em situações problemáticas ou absurdas.
o   A existência é um “poder-ser”, um sair fora (um ex-sistere) para a decisão e a autoplasmação.
o   O homem será aquilo que decidiu ser. Diferente dos animais e das coisas, que são aquilo que são.
o   Possibilidade: Modo de ser constitutivo da existência, que está aberta à transcendência.

•         Karl Jaspers (1883-1969): Psiquiatra e filósofo alemão. Estudou medicina e, depois de trabalhar no hospital psiquiátrico da Universidade de Heidelberg, tornou-se professor de psicologia da Faculdade de Letras dessa instituição. Desligado de seu cargo pelo regime nazista em 1937, foi readmitido em 1945 e, três anos depois, passou a lecionar filosofia na Universidade de Basel. O pensamento de Jaspers foi influenciado pelo seu conhecimento em psicopatologia e, em parte, pelo pensamento de Kierkegaard, Nietzsche e Max Weber.
o   Filosofia x Ciência: "a verdade é algo infinitamente maior que a exatidão científica", e a filosofia é a atitude ou atividade que aclara a existência, levando-a a consciência de si mesma e à comunicação com as outras existências.
  O conhecimento científico não dá sentido ao mundo, é conhecimento de objetos, orientação no mundo; não é conhecimento do ser. “O conhecimento científico não estabelece valores válidos; ele remete ao outro fundamento de nossa vida”. E quanto mais a ciência avança em sínteses sempre mais amplas, a totalidade, o ser “sempre retrocede e se afasta”; existe um tudo-que-abraça que sempre e continuamente se anuncia a nós. O sentido do ser e a compreensão da totalidade oniabrangente determinam, pois, o "malogro" da pesquisa. O absoluto está sempre além, além de todo horizonte científico.
  Filosofia: Deve focar no homem real, oferecendo à ciência o exame crítico dos fatos. “A filosofia e a ciência não são possíveis uma sem a outra”. Sempre teve interesse em integrar a ciência ao pensamento filosófico na medida em que, para Jaspers, as ciências são por si só insuficientes e necessitam do exame crítico que só pode ser dado pela filosofia. Esta, por sua vez, deve basear-se numa elucidação, a mais completa possível, da existência do homem real, e não da humanidade abstrata.
  Ser oniabrangente: Fonte de toda outra coisa, o absoluto que está sempre além. "o ser não pode nos ser dado fechado e os horizontes são ilimitados para nos. O ser nos arrasta em todos os sentidos em direção ao infinito".
o   Existencialismo (ou filosofia da existência): Metafísica que proporciona todo o saber e todo o descobrimento possível.
  A existência é sempre "minha" existência, singular e inconfundível.
  A existência é não-objetivável; em sua autenticidade, não pode ser identificada com um Dasein (ser empírico), com um dado de fato compreensível pelo intelecto científico. A existência não é um dado de fato indiferente, mas "uma questão pessoal".
  Problema: Como pensar a existência sem torná-la objeto? Resposta: Através da razão, que mostra que a existência não é um indiferente dado de fato (ele pode ser), além de ser histórica (cada um vive em sua situação). A existência, em qualquer de seus aspectos, é precisamente o contrário de um "objeto", pois pode ser definida como "o que é para si encaminhada". A existência humana é entendida como intimamente vinculada à historicidade e à noção de situação. O homem não é dado, não é um dado de fato; ele pode ser. A não-objetivabilidade da existência e sua historicidade, portanto, são os dois primeiros resultados a que leva a iluminação da existência.
  Mas, o que o homem pode ser? Aquilo que ele é, na atual situação que se encontra, pois, "posso tornar-me apenas aquilo que sou". Sua escolha, afirma Jaspers, está apenas no reconhecimento e na aceitação daquela possibilidade - na única possibilidade - que é a situação em que o homem se encontra: "Eu estou em uma situação histórica se me identifico com uma realidade e com sua tarefa imensa [...]. Posso pertencer somente a um único povo, posso ter apenas estes genitores e não outros, posso amar somente uma única mulher". Claro, eu posso trair. Todavia, se traio (tentando pertencer a outro povo, amando outra mulher, desconhecendo meus genitores), estou traindo a mim mesmo, já que sou minha situação e essa é a realidade intranscendível. Posso tornar-me apenas aquilo que sou. E a única escolha autêntica está na consciência e na aceitação da situação em que se está. A liberdade não é o instrumento de alternativas, mas assemelha-se ao amor fati de Nietzsche (Amar o necessário, aceitar este mundo e amá-lo (atitude do super-homem)).
o   Transcendência: Inatingível pelo conhecimento científico e que se revela nos "sinais" das situações-limite e do naufrágio da existência.
  Cifras da transcendência: Coisas e instituições que passam e acabam não nos fazendo conhecer a transcendência, porém, nos remetem a ela através de uma linguagem cifrada. Pois bem, diante da consciência do naufrágio do mundo e dos entes do mundo, afirma-se a evidência que estes podem ter como sinais da transcendência. Não nos dão a conhecer a transcendência, já que esta não é cognoscível como os entes do mundo, porém, nos remetem a ela como ao "Outro" do qual são portadores. Nesse sentido, pela existência "aclarada" da razão, o mundo e os entes do mundo constituem a linguagem cifrada da transcendência.
  A existência remete necessariamente à transcendência e nos leva ao naufrágio. A existência consciente percebe que tudo tem um fim: “no fim há o naufrágio”. Nenhum fato é eterno, nenhuma instituição resiste estavelmente no tempo. O naufrágio está à espreita não só para as coisas e as instituições, mas também para tudo o "que, em geral, é efetuado e alcançado com o pensamento".
  O existir é um transcender na liberdade, que abre o caminho em meio a um conjunto de situações históricas concretas.
  A transcendência revela-se nas "situações limites", sendo limite algo que transcende a existência. Não se pode viver sem luta e dor, sou destinado à morte. Essas situações são imutáveis, definitivas, irredutíveis e não-transformáveis, são como muro contra o qual nos chocamos fatalmente. A única coisa que podemos fazer é clarificá-las.
o   "Eu sou minha verdade". Por isso, enquanto a verdade científica é objetiva e anônima, a verdade filosófica é existencial e singular. "Deus é sempre o meu Deus, e eu não o tenho em comum com os outros homens". Todavia, se a verdade filosófica tem suas raízes no profundo da existência singular, como se pode transmiti-la aos outros e com quais razões pode ser selecionada e aceita? Para Jaspers, a "verdade", isto é, a transcendência, é buscada por todas as filosofias, mas jamais é posse exclusiva de um ponto de vista. Naturalmente, a verdade está ligada à existência singular e, por isso, é única: eu sou a minha verdade.
  A verdade filosófica tem suas raízes no profundo da existência singular, sendo a verdade única e múltipla. Substancialmente, a verdade alheia não é tanto uma verdade oposta a minha, e sim muito mais a verdade de outra existência que, juntamente com a minha, procura aquela Única Verdade que esta além de todas as verdades.
  Única Verdade: Esta além de todas as verdades, é o horizonte que transcende todas elas e em direção ao qual todas se movem.
  Comunicação: Entre as verdades singulares. Criticava tanto o dogmático, quanto o relativista e o cético.
    1. Crítica aos sistemas totalitários e alinhamento com o mundo livre. Os sistemas totalitários presumem conhecer todo o curso da história e "fundamentam sua planificação total com base nesse conhecimento total. Mas, como não é possível para ninguém, nem mediante o conhecimento, nem mediante a ação, captar a totalidade do mundo, aquele que, apesar disso, tenta fazê-lo deve, consequentemente, conquistar o mundo com a força, mas o fará como assassino que se apossa de um cadáver, e não como homem que procura entrar em relação com outros seres humanos para construir um mundo comum.

•         Jean-Paul Sartre (1905-1980): Filósofo, escritor e crítico francês, conhecido como representante do existencialismo. Órfão de pai com 15 meses. Mais tarde ele reconheceria esse período como a raiz de seu anticolonialismo e o início do abandono dos valores burgueses. Em 1924 ingressou na École Normale Supérieure. Sartre torna-se muito popular entre os colegas. Os alunos da escola se dividem em grupos de afinidades religiosas ("ateus" e "carolas"), e facções políticas: Socialistas, comunistas, reacionários, pacifistas. Sartre adere aos ateus e aos pacifistas. Sartre mantém o individualismo e o desinteresse pela política que conservaria até o fim da Segunda Guerra. No campo filosófico, além de Bergson, passou a ler Nietzsche, Kant, Descartes e Spinoza. Já na escola começa a desenvolver as primeiras ideias de uma filosofia da liberdade leiga, da oposição entre os seres e a consciência, do absurdo e da contingência que ele viria a desenvolver posteriormente em suas grandes obras filosóficas. Sartre e Simone de Beauvoir nunca formaram um casal monogâmico. Não se casaram e mantinham uma relação aberta. Sua correspondência é repleta de confidências sobre suas relações com outros parceiros. Na década de 1950 assume uma postura política mais atuante, e abraça o comunismo. Torna-se ativista. Seu principal interesse filosófico é o indivíduo e a psicologia. Acreditava que os intelectuais têm de desempenhar um papel ativo na sociedade. Era um artista militante, e apoiou causas políticas de esquerda com a sua vida e a sua obra. Repeliu as distinções e as funções oficiais e, por estes motivos, se recusou a receber o Nobel de Literatura de 1964. Sua filosofia dizia que no caso humano (e só no caso humano) a existência precede a essência, pois o homem primeiro existe, depois se define, enquanto todas as outras coisas são o que são, sem se definir, e por isso sem ter uma "essência" posterior à existência.
o   Náusea diante das coisas: Revela a gratuidade das coisas e do homem reduzido a coisa e submerso nas coisas.
  Quando o homem não tem mais objetivos, o mundo torna-se privado de sentido. Retoma de Husserl a ideia de intencionalidade da consciência, censurando-o, porém, por ter caído no idealismo e no solipsismo com o seu sujeito transcendental.
  A consciência é abertura para o mundo, mas o mundo não é existência. A consciência é abertura para o mundo; a consciência está encarnada na densa realidade do universo; o mundo pode ser visto como um conjunto de utensílios. Mas o mundo não é a existência. E quando o homem não tem mais objetivos, o mundo fica privado de sentido. Essa é a tese expressa por Sartre em A náusea, na qual o autor opõe o absurdo aos valores positivos da filosofia clássica.
  A náusea é o sentimento que nos invade quando descobrimos a contingência essencial e o absurdo do real. "O essencial é a contingência. Quero dizer que, por definição, a existência não é a necessidade. Existir é estar ali, simplesmente; os seres aparecem, se deixam encontrar, mas nunca se pode deduzi-los [...]. Não há nenhum ser necessário que possa explicar a existência: a contingência não é falsa fisionomia, aparência que pode se dissipar; é o absoluto e, por conseguinte, a perfeita gratuidade".
  A gratuidade das coisas e do homem reduzido a coisa é revelada pela experiência da náusea.
  O conceito de náusea de Sartre não é muito distante do conceito de angústia de Heidegger.
o   O Ser e o nada:
  O mundo é o "em si", o dado opaco, "empastado de si mesmo", contingente e gratuito.
  A consciência é sempre consciência de algo, de algo que não é consciência. Em outras palavras, o exame da experiência mostra-nos que desde o início o ser-em-si, isto é, os objetos que transcendem a consciência, não são a consciência.
  A consciência "é um nada de ser e, ao mesmo tempo, um poder nulificante, o nada". Eu tenho consciência dos objetos do mundo, mas nenhum desses objetos é minha consciência: a consciência "é um nada de ser e, ao mesmo tempo, um poder nulificante, o nada". O mundo é o "em-si", é o dado "misturado de si mesmo", "opaco a si mesmo porque cheio de si mesmo", absolutamente contingente e gratuito (como precisamente revela a náusea).
  Diante do "em si" está a consciência, que é o "por si", sendo o "por si", também, o "ser-para-outros", cujo o "outro" revela-se naquelas experiências em que ele invade o campo da minha subjetividade. A Consciência, portanto, está no mundo, mas é radicalmente diferente dele, é desvinculada do "em si".
  Liberdade: Não é um ser, mas o ser do homem, ou seja, o seu nada de ser.
1.       O homem não está sujeito ao determinismo. Sua vida não se assemelha à da planta, cujo futuro já está "escrito" na semente; o homem é o demiurgo de seu futuro.
2.       O homem não é uma essência fixa (a existência precede sua essência). Contudo, "se, na realidade, a existência precede a essência, nunca seria possível explicá-la em referência a uma natureza humana dada e não modificável; em outras palavras, não há determinismo; o homem é livre, o homem é liberdade".
3.       A consciência (que é existência, isto é, o homem) é a liberdade. A consciência não é um objeto, não é realidade, é possibilidade, isto é liberdade.
4.       O homem está condenado a ser livre. “Assim, nem atrás nem diante de nós, em um domínio luminoso de valores, temos justificações ou desculpas. Estamos sós, sem desculpas. E isso o que eu expresso com a afirmação de que o homem está condenado a ser livre. Condenado porque não se criou por si mesmo e, no entanto, livre, porque, uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo aquilo que faz".
  Como a náusea constitui a experiência metafísica que revela a gratuidade e o absurdo das coisas, da mesma forma a angústia é a experiência metafísica do nada, isto é, da liberdade incondicionada. Com efeito, o homem, e só o homem, é "o ser para o qual todos os valores existem".
  "O homem é o ser que projeta ser Deus", mas, na realidade, ele se mostra como aquilo que é, "uma paixão inútil". "Todas as atividades humanas são equivalentes [...] e que todas estão destinadas em princípio à falência. No fundo, é a mesma coisa embriagar-se na solidão ou conduzir os povos". As coisas do mundo são gratuitas, e um valor não é superior a outro. As coisas são desprovidas de sentido e fundamento, e as ações dos homens são desprovidas de valor. Em suma, a vida é aventura absurda, onde o homem se projeta continuamente além de si mesmo, como que para poder tornar-se Deus.
  Valores: As coisas do mundo são gratuitas, e um valor não é superior a outro. As coisas são desprovidas de sentido e fundamento, e as ações dos são desprovidas de valor. Se Deus não existe, “não encontramos diante de nós valores e ordens em grau de legitimar nossa conduta”.
1.       O homem é demiurgo (deus criador entre os platônicos) de seu próprio futuro.
  Ser-para-outros: “O inferno são os outros”.
1.       Outro: Aquele que me vê e que invade o campo da minha subjetividade. O outro não tem necessidade de ser inferido analogicamente a partir de mim mesmo e, de sujeito, me transforma em objeto de seu mundo.
2.       Conflito: Sentido original do ser-para-outros, pois o olhar do outro transforma o sujeito em objeto e, portanto, é limitador. Quando outro entra subitamente no mundo de minha consciência, minha experiência se modifica: não tem mais seu centro em mim, e vejo-me como elemento de um projeto que não é meu e não me pertence. Quando outro entra subitamente no mundo de minha consciência, minha experiência se modifica: não tem mais seu centro em mim, e vejo-me como elemento de um projeto que não é meu e não me pertence.
3.       "Minha queda original é a existência do outro".
o   Humanismo: Diminuição do desespero.
  “O homem inventa o homem”. "O homem, sem nenhum socorro e apoio, está condenado a cada instante a inventar o homem [...]. ‘O homem inventa o homem’".
  Liberdade absoluta e responsabilidade total, porém, “minha” liberdade não é dependente somente da liberdade do outro. "eu sou obrigado a querer ao mesmo tempo minha liberdade e a liberdade dos outros, e não posso tomar minha liberdade como fim se não tomar igualmente como fim a liberdade dos outros".
o   Marxismo x existencialismo:
  O homem é aquilo que ele pode. "Dizer de um homem o que ele é significa dizer o que ele pode, e reciprocamente: as condições materiais de sua existência circunscrevem o campo de suas possibilidades [...], de modo que o campo do possível é o objetivo em direção ao qual o agente ultrapassa sua situação objetiva. E esse campo, por sua vez, depende estritamente da realidade social e histórica”.
  Sartre adere ao materialismo histórico (infra-estrutura determina super-estrutura) de Marx, mas rejeita o materialismo dialético (o comunismo como consequência natural do desenvolvimento histórico) , por não pode se provar essa teoria. Em suma, para Sartre, o marxismo não é de modo nenhum "o materialismo dialético, se com este se entende a ilusão metafísica de descobrir uma dialética da natureza.
  A doutrina da dialética é um dogma e, como tal, se opõe aos fatos. O marxista transformou o marxismo em "saber eterno" e, desse modo, "a busca totalizadora deu lugar a uma escolástica da totalidade". O princípio heurístico "procurai o todo através das partes" transformou-se em prática terrorista: "liquidar a particularidade".
O existencialismo faz renascer o indivíduo pulverizado pela doutrina dialética. E como o marxismo, com a teoria dialética, dissolveu os homens "em um banho de ácido sulfúrico". "o existencialismo pôde renascer e se manter porque afirmava a realidade dos homens, como Kierkegaard afirmava sua própria realidade contra Hegel".

•         Bertrand Russell (1872-1970): Matemático, filósofos e lógico britânico. Político liberal, ativista e um popularizador da filosofia, Russell foi respeitado por inúmeras pessoas como uma espécie de profeta da vida racional e da criatividade. A sua postura em vários temas foi controversa. Nasceu em 1872, no auge do poderio econômico e político do Reino Unido, e morreu em 1970, vítima de uma gripe, quando o império se tinha desmoronado e o seu poder drenado em duas guerras vitoriosas mas debilitantes. Até à sua morte, a sua voz deteve sempre autoridade moral, uma vez que ele foi um crítico influente das armas nucleares e da guerra estadunidense no Vietnã. Era inquieto. Recebeu o Nobel de Literatura de 1950, "em reconhecimento dos seus variados e significativos escritos, nos quais ele lutou por ideais humanitários e pela liberdade do pensamento". Os seus pais eram extremamente radicais para o seu tempo. Sua infância não foi feliz. O seu pai, o visconde de Amberley, que faleceu quando Bertrand tinha 4 anos, era um ateísta que se resignou com o romance de sua mulher com o tutor de suas crianças. A sua mãe, viscondessa Amberley (que faleceu quando Bertrand tinha 2 anos de idade) pertencia a uma família aristocrática, era irmã de Rosalinda, condessa de Carlisle. O padrinho de Bertrand foi o filósofo utilitarista John Stuart Mill. Russell estudou Filosofia na Universidade de Cambridge, tendo iniciado os estudos em 1890. Tornou-se membro (fellow) do Trinity College em 1908. Teve como discípulo L. Wittgenstein, "uma das aventuras intelectuais mais excitantes de minha vida". Posteriormente, Russell e Wittgenstein afastaram-se cada vez mais, até romperem completamente a amizade.Pacifista, e recusando alistar-se durante a Primeira Guerra Mundial, perdeu a cátedra do Trinity College e esteve preso durante seis meses. Nesse período, escreveu a Introdução à Filosofia da Matemática. Em 1920, Russell viajou até à Rússia, tendo posteriormente sido professor de filosofia em Pequim por um ano. Na primavera de 1939, Russell foi viver nos Estados Unidos, em Santa Barbara, para ensinar na Universidade da Califórnia, em Los Angeles. Foi nomeado professor no City College de Nova Iorque pouco tempo depois, mas depois de controvérsia pública, a sua nomeação foi anulada por tribunal: as suas opiniões secularistas, como as encontradas em seu livro "Marriage and Morals", tornaram-no "moralmente impróprio" para o ensino no college. Seu livro "Why I Am Not a Christian" que foi uma pronunciação realizada nos anos 20 na seção sul da National Secular Society de Londres e o ensaio "Aquilo em que Creio" foram outros textos que causaram a confusão. Regressou à Grã-Bretanha em 1944, tendo voltado a integrar a faculdade do Trinity College. Em 1962, já com 90 anos, mediou o conflito dos mísseis de Cuba para evitar que se desencadeasse um ataque militar. Organizou com Albert Einstein o movimento Pugwash que luta contra a proliferação de armas nucleares.
o   Atomismo Lógico: Simbiose entre um empirismo radical e uma lógica perspicaz. A lógica oferece as formas-padrão do raciocínio correto e o empirismo oferece premissas, que são proposições atômicas ou proposições complexas, construídas a partir das primeiras.
  Mundo: "uma concepção resultante da síntese de quatro ciências diferentes, ou seja, a física, a fisiologia, a psicologia e a lógica matemática".
  "A filosofia não pode ser fecunda se estiver afastada da ciência".
  Proposição atômica: Descreve um fato. Afirma que uma coisa tem certa qualidade ou que determinadas coisas têm certas relações.
  Fato atômico: É o que torna verdadeira ou falsa uma proposição atômica. "Sócrates é ateniense" é uma proposição atômica, que expressa o fato de Sócrates ser cidadão ateniense. "Sócrates é marido de Xantipa" é outra proposição atômica. "Sócrates é ateniense e marido de Xantipa" é proposição complexa ou molecular.
  Proposição complexa ou molecular: Junção de proposições atômicas.
o   Principia Mathematica (1903): Toda a matemática procede da lógica simbólica, depois de descobrir, tanto quanto possível, quais são os princípios da própria lógica simbólica.
  Concepções lógicas Russel/Frege:
1.       a) A matemática pode ser reduzida a um ramo da lógica;
2.       b) “A matemática pura é a classe de todas as proposições da forma ‘p implica q'”;
3.       c) Não existem conceitos típicos da matemática que não possam ser reduzidos a conceitos lógicos (de lógica das classes); e
4.       d) Não existem procedimentos de cálculo e de derivação dentro da matemática que não possam ser resumidos em derivações de caráter puramente formal.
o   Teoria das descrições: Tentativa de eliminar os paradoxos metafísicos da "existência" e os paradoxos dos não-existentes.
  A matemática tem sua existência independente do sujeito e da experiência e é sempre verdadeira (realismo platônico). "Se A=B e B=C, então A=C" existe independentemente do sujeito que a pensa: existe e é sempre verdadeira;
  Contraposição a Frege, que afirmava que expressões diferentes, com mesmo significado, podem indicar um mesmo objeto. Frege fizera notar que expressões como "a estrela da manhã" e "a estrela vespertina", embora indicando o mesmo planeta Vênus, dizem coisas diferentes, apresentando sentidos diferentes. Consequentemente, ele distinguira entre sentido (Sinn) e significado (Bedeutung), ou, em termos clássicos, entre conotação e denotação ou intensão e extensão. As duas expressões têm o mesmo significado ou a mesma denotação, ou seja, indicam o mesmo objeto, ao passo que o seu sentido ou conotação, isto é, o que dizem desse objeto, é diferente.
  Expressões denotativas são incompletas, ou seja, são incapazes de ter significado por si sós e se distinguem claramente dos nomes próprios (que, tomados isoladamente, têm significado). Tal análise elimina a locução "uma montanha de ouro" e, consequentemente, elimina também qualquer razão de crer que o objeto por ela indicado tenha algum tipo de existência. A frase "o círculo quadrado não existe" torna-se "jamais é verdadeiro que x seja circular, y seja quadrado e não seja sempre falso que x e y se identifiquem". Como se vê, nas reconstruções de Russell desaparecem as expressões denotativas, e desaparecem as formas do verbo "existir" e do verbo "ser" em função não-copulativa.
o   Filosofia da Linguagem: Relação que a linguagem deve ter com os fatos, se deve haver conhecimento válido.
  Empirismo para Russel: Limitador do conhecimento sintético e teoria inadequada, mas a melhor entre as disponíveis.
  Crítico da Filosofia Analítica (relação clara entre as palavras e as coisas/vida) e do “segundo” Wittgenstein; Em suma, Russell acredita que os filósofos da linguagem estão praticando a mística do uso comum. E rejeita o fato de que os oxfordianos consideram a linguagem comum como o banco de prova de qualquer outra linguagem. Claro, na linguagem comum não queremos de modo algum "ficar discorrendo sobre o sol que surge e que cai. Mas os astrônomos acham melhor uma linguagem diferente, e eu sustento que uma linguagem diferente também é preferível em filosofia".
1.       Prática do culto ao uso comum da linguagem, a despeito de toda linguagem técnica;
2.       Ao invés de buscar o sentido das coisas e da realidade, se ocuparia de modo estéril com o sentido das palavras.
o   Moral e Cristianismo: Valores não podem ser deduzidos logicamente do conhecimento.
  Somente as afirmações tautológicas da matemática e as afirmações sintéticas das ciências empíricas têm sentido.
Cristianismo (e toda a metafísica e outras religiões): Do ponto de vista teórico, seria um conjunto de contra-sensos e, do ponto de vista ético, como implicando moral desumana e obscurantista.

•         Ludwig Wittgenstein (1889-1951): Descendente de uma das mais importantes famílias vienenses, discípulo de Bertrand Russell em Cambridge, prisioneiro dos italianos no fim da Primeira Guerra Mundial, mestre de escola elementar de 1920 a 1926, a partir de 1930 docente de filosofia em Cambridge. Foi, sem dúvida, um dos filósofos mais influentes do século 20 e o principal responsável pela chamada virada linguística da filosofia, movimento que colocou a linguagem no centro da reflexão filosófica, deixando de figurar apenas como um meio para nomear as coisas ou transmitir pensamentos. Em Wittgenstein, como em Sócrates, vemos um filósofo que procura viver coerentemente com suas crenças filosóficas. Ele recusou a fortuna de sua família e trabalhou em funções humildes, como ajudante de jardineiro em um mosteiro e porteiro em um hospital. Exerceu profunda influência no desenvolvimento do positivismo lógico. Seu pensamento é geralmente dividido em duas fases. Para identificá-las, muitos autores recorrem ao artifício de atribuir os escritos da juventude ao Primeiro Wittgenstein e a obra posterior ao Segundo Wittgenstein, como se designassem autores distintos. A cada um desses períodos corresponde uma obra central na história da filosofia do século XX. À primeira fase, pertence o Tractatus Logico-Philosophicus, livro em que Wittgenstein procura esclarecer as condições lógicas que o pensamento e a linguagem devem atender para poder representar o mundo. À segunda fase, pertencem as Investigações Filosóficas, publicadas postumamente em 1953. De descendência judia, foi batizado como católico, assim como seus irmãos. Ao lado dos pendores artísticos, no entanto, a família Wittgenstein apresentava também traços de intensa autocrítica, pessimismo, depressão e mesmo de tendências suicidas. Três dos quatro irmãos homens de Wittgenstein cometeram suicídio.
o   Tractatus Logico-Philosophicus:
  Teses principais:
1.       ''O mundo é tudo o que acontece".
2.       "O que acontece, o fato, é a existência dos fatos atômicos”.
3.       "A representação lógica dos fatos é o pensamento".
4.       "O pensamento é a proposição exata".
5.       "A proposição é uma função de verdade das proposições elementares". "A forma geral da função de verdade é [r, x, N(x)]: essa é a fórmula geral da proposição”.
6.       "Aquilo de que não se pode falar, deve-se calar".
** → Em uma primeira consideração, encontramos no Tractatus uma ontologia: "O mundo divide-se em fatos". Mas o próprio fato é divisível: "Aquilo que acontece, o fato, é a existência de fatos atômicos". E os fatos atômicos, por seu turno, são constituídos por objetos simples: estes são a substância do mundo. "O fato atômico é uma combinação de objetos (entidades, coisas)". "O objeto é simples". "Os objetos constituem a substância do mundo. Por isso não podem ser compostos". "O fixo, o consistente e o objeto são uma só coisa". "O objeto é o fixo, o consistente; a configuração é o mutável, o instável".
  Linguagem: Representação projetiva da realidade, formada por proposições complexas (moleculares), que podem ser divididas em proposições simples (ou atômicas), não ulteriormente divisíveis em outras proposições.  "Nós fazemos representações dos fatos". "A representação é um modelo da realidade". E "o que a representação deve ter em comum com a realidade para poder representá-la – exata ou falsamente -, segundo seu próprio modo, é a forma de representação".
1.       Realidade: Consta de fatos, que se resumem em fatos atômicos. O fato atômico é o que torna verdadeira ou falsa uma proposição atômica. O fato molecular é uma combinação de fatos atômicos que torna verdadeira ou falsa uma proposição molecular.
2.       O pensamento ou proposição representa ou espelha projetivamente a realidade. E a cada elemento constitutivo do real corresponde outro elemento no pensamento.
3.       Proposições Atômicas (elementares): Constituem o correspondente dos fatos atômicos. E são combinações de nomes, correspondentes aos objetos: "O nome significa o objeto. O objeto é seu significado [...]". Para exemplificar, "Sócrates é ateniense" é uma proposigção atômica, que descreve o fato atômico de que Sócrates é ateniense; já "Sócrates é ateniense e mestre de Platão" é proposição molecular, que reflete o fato molecular de que Sócrates é ateniense e mestre de Platão. A proposição atômica é a menor entidade linguística da qual se pode proclamar o verdadeiro ou o falso.
  Mística: "O que é místico não é como o mundo é, mas que ele é".
1.       Embora a ciência represente projetivamente o mundo, entretanto, além da ciência e do mundo, "há verdadeiramente o inexprimível. Mostra-se; é aquilo que é místico".
2.       "O sentido do mundo deve se encontrar fora dele". No mundo, tudo é como é, e acontece como acontece: nele não há nenhum valor - e, se houvesse, não teria nenhum valor [...] ".
3.       A ciência é incapaz de responder os problemas da vida. E "nos sentimos que, ainda que todas as possíveis perguntas da ciência recebessem resposta, os problemas de nossa vida não seriam sequer arranhados. Sem dúvida, não resta então nenhuma pergunta - e esta é precisamente a resposta". "O problema da vida resolve-se quando se desvanece".
  Neopositivistas: Aceitaram a parte antimetafísica e ignoraram a parte mística. Retomaram a teoria da tautologicidade das assertivas lógicas, interpretaram as proposições atômicas como protocolos das ciências empíricas e assumiram sua ideia de que a filosofia é atividade clarificadora da linguagem científica e não doutrina.
1.       O Tractatus torna-se a bíblia do neopositivismo. O Círculo de Viena utiliza largamente o livro, mas Wittgenstein rejeita o rótulo de positivista.
2.       “O positivismo sustenta que aquilo de que podemos falar é tudo o que conta na vida. Wittgenstein, ao contrário, crê apaixonadamente que tudo o que conta na vida humana é precisamente aquilo sobre o qual, no seu modo de ver, devemos calar”.
  “Jogos de linguagem” - O “segundo” Wittgenstein: A linguagem é um conjunto de “jogos de língua”.
1.       Crítica à concepção de linguagem como simples denominação de objetos (teoria da representação). É óbvio que, assim concebendo a linguagem, o compreender se reduz a dar explicações que se resumem em definições ostensivas, que postulam toda aquela série de atos e processos mentais que deveriam explicar a passagem da linguagem à realidade. Como se vê, a teoria da representação, o atomismo lógico e o mentalismo estão estreitamente conjugados.
2.       A linguagem é mais do que meras denominações, pois pode se envolver em inumeráveis tipos diferentes de emprego. Basta pensar nas exclamações, com suas tão diferentes funções: Água! Fora! Ai! Socorro! Lindo! Não! E agora, ainda estás disposto a chamar essas palavras de 'denominação de objetos'?".
3.       “O significado de uma palavra é o uso dela na linguagem”. E o uso tem regras. Mas não raramente a linguagem entra em férias, e então surgem os problemas filosóficos. Daí a necessidade de uma filosofia como "terapia linguística".
  Filosofia: Terapia lingüística. “A filosofia é batalha contra o encantamento de nosso intelecto, por meio de nossa linguagem".
1.       O uso da palavra segue regras. E essas regras que aprendemos através do adestramento são públicas: "No sentido em que existem processos (também processos psíquicos) característicos do compreender, o compreender não é processo psíquico".
2.       Os problemas filosóficos surgem quando falta a linguagem. E esses problemas se resolvem dissolvendo-os. "Quando os filósofos usam urna palavra - 'saber', 'ser', 'objeto', 'eu', 'proposição', 'nome' – e tentam captar a essência da coisa, devemos sempre perguntar: essa palavra é efetivamente usada assim na linguagem, na qual tem sua pátria?"
3.       O filósofo trata uma questão como uma doença. A linguagem opera sobre o fundo de necessidades humanas, na determinação de um ambiente humano. E como "o significado de uma palavra é seu uso na linguagem", a função da filosofia é puramente descritiva. Como na psicanálise, a diagnose é a terapia: "o filósofo trata uma questão como uma doença".
4.       Não busqueis o significado, buscai o uso.
A filosofia é a terapia das doenças da linguagem. "Qual é o teu objetivo em filosofia? Indicar à mosca o caminho de saída de dentro da garrafa".

•         Sigmund Freud (1856-1939): Formou-se em medicina e especializou-se em Neurologia, tendo logo a seguir criado a Psicanálise. Freud nasceu numa família judaica, em Freiberg in Mähren, na época pertencente ao Império Austríaco; atualmente a localidade é denominada Příbor, na República Tcheca. Freud foi obrigado a emigrar da Austria nazista para a Inglaterra, onde morreu de câncer no queixo, em 1939.
o   Psicanálise: "A psicanálise é [...] uma criação minha". Não há "fato humano" que não tenha sido tocado e "abalado" pela doutrina psicanalítica.
  Concluiu que as causas de muitas doenças consideradas mentais (como a histeria) eram psicológicas e não orgânicas. Freud iniciou seus estudos pela utilização da técnica da hipnose como forma de acesso aos conteúdos mentais no tratamento de pacientes com histeria. Ao observar a melhoria de pacientes de Charcot, elaborou a hipótese de que a causa da doença era psicológica, não orgânica.
  Teoria da repressão: O consciente reprime, esconde e rejeita no inconsciente, coisas esquecidas que tiveram um caráter penoso (terríveis e vergonhosos) para o paciente, gerando uma neurose quando o Ego consciente bloqueia impulsos do inconsciente. Em todo ser humano operam forças, tendências ou impulsos que, frequentemente, entram em conflito. Aparece a neurose quando o Ego consciente bloqueia o impulso, negando-lhe acesso "a consciência e a descarga direta": uma resistência "reprime" o impulso para a parte "inconsciente" da psique. Entretanto, "as tendências reprimidas tornadas inconscientes, podiam obter descarga e satisfação substitutiva por vias indiretas, tornando desse modo inútil o objetivo da repressão.
  Inconsciente: É o inconsciente que fala e se manifesta na neurose. Parte do aparato psíquico onde foram reprimidos desejos e pulsões dos quais o Ego se envergonha e são mantidos freados pelo Superego (ideias, valores e comportamentos da sociedade mais ampla). Tudo o que acontece na história de um indivíduo nunca desaparece, tenha ele sido consciente, ou de nada tendo suspeitado.
  O psicanalista é, também, um "intérprete de sonhos": O sonho é uma realização (mascarada) de um desejo (reprimido). No sonho há um conteúdo manifesto, latente. Encontramos então, nas raízes ocultas dos sonhos, impulsos reprimidos que, dada a reduzida vigilância exercida pelo Ego consciente durante o sono, o sonho procura satisfazer: "o sonho [...] constitui a realização de um desejo", de um desejo que a consciência reputa criticável ou talvez vergonhoso e que "tende a repudiar com estupefação ou com indignação" .
  Libido: Força com a qual se manifesta a vida sexual e que, quando reprimidos, são as causas mais frequentes das neuroses. Freud reconduz a vida do homem a uma libido originária, isto é, a uma energia relacionada principalmente com o desejo sexual: "Análoga a fome em geral, a libido designa a força com a qual se manifesta o instinto sexual, assim como a fome designa a força com a qual se manifesta o instinto de absorção do alimento". Mas, enquanto desejos como a fome ou a sede não são "pecaminosos" e não são reprimidos, os impulsos sexuais o são para depois reaparecerem nos sonhos e nas neuroses.
  Sexualidade infantil: São os sonhos dos adultos que frequentemente remetem a desejos não atendidos e não saciados da vida "sexual infantil". A criança não estaria privada de instintos. A sexualidade infantil, portanto, é "auto-erotismo", que se manifesta com a "conquista do prazer", que encontra em "zonas erógenas" do corpo um objeto de prazer.
o   Complexo de Édipo: "O menino concentra seus desejos sexuais na pessoa da mãe e concebe impulsos hostis contra o pai, considerado como rival. Essa é também - 'mutatis mutandis' - a atitude da menina". Na tragédia grega, Édipo, filho do rei de Tebas, mata seu pai e toma como mulher a própria mãe. Esse mito, diz Freud, "é a manifestação pouco modificada do desejo infantil contra o qual se ergue mais tarde, para esmagá-lo, a barreira do incesto".
** → De todas essas considerações, Freud deduz "ter em primeiro lugar desligado a sexualidade de seus laços demasiado estreitos com a genitália", definindo-a como função somática mais vasta, que tende, antes de mais nada, para o prazer, e que só secundariamente se põe a serviço da reprodução. Em segundo lugar, incluímos entre os instintos sexuais também todos os impulsos somente afetuosos e amigáveis para os quais, na linguagem corrente, usamos a palavra "amor". Essa ampliação do conceito de sexualidade (que, além disso, é uma "reconstituição" do próprio conceito), tornando-a não mais completamente dependente dos orgãos genitais, permite que se considerem também as atividades sexuais não-genitais das crianças e também dos adultos (basta pensar na homossexualidade).

** → "As teorias da resistência e da repressão para o inconsciente, do significado etiológico da vida sexual e da importância das experiências infantis são - escreve Freud – os principais elementos do edifício teórico da psicanálise".
o   Técnicas terapêuticas: "A descoberta da resistência é o primeiro passo para sua superação". O analista faz com que o paciente se estenda sobre o divã, em ambiente em que não exista luz muito intensa, de modo a colocar o paciente em situação de relaxamento; o analista põe-se, então, atrás do paciente e o convida "a manifestar tudo o que chega a seu pensamento, renunciando a guiar o pensamento intencionalmente". Essa técnica não exerce pressões sobre o doente, constituindo um caminho eficaz para se descobrir a resistência: "A descoberta da resistência é o primeiro passo para sua superação".
  Livre associação das ideias: O paciente é convidado a expor suas ideias livremente, cabendo ao analista (treinado para interpretar) apenas guiá-lo a achar os pontos de resistência, para assim tentar superá-los.
o   Objetivo: Transformar o inconsciente em consciente, para que o paciente possa combater sua doença psicopatológica.
o   Transferência: Intensa relação sentimental do analista em relação ao paciente. "Em todo tratamento analítico, sem qualquer intervenção do médico, se estabelece intensa relação sentimental do paciente com a pessoa do analista". A utilização e o aproveitamento da transferência são “a parte mais difícil e importante da técnica analítica”.
  Teoria do mecanismo psíquico: Id, Ego e Superego.
o   Id: Inconsciente (amoral e egoísta). É o conjunto dos impulsos inconscientes da libido; é a fonte da energia biológico-sexual; é o inconsciente amoral e egoísta.
o   Ego: É o representante consciente do Id. É a "fachada" do Id; é o representante consciente do Id; é a ponta consciente daquele iceberg que é o Id.
o   Superego: Sede da consciência moral (desenvolvida na autoridade familiar e social – Superego “paterno” torna-se superego “social”). Se forma por volta dos cinco anos de idade e diferencia (por grau e não por natureza) o homem do animal; é a sede da consciência moral e do sentimento de culpa. O Superego nasce como interiorização da autoridade familiar e se desenvolve posteriormente como interiorização de outras autoridades, bem como interiorização de ideais, valores e modos de comportamento propostos pela sociedade através da substituição da autoridade dos genitores pela autoridade de "educadores, professores e modelos ideais". O Superego "paterno" torna-se um Superego "social".
** → O Ego, portanto, encontra-se em um intercâmbio entre o Id e o Superego, entre os impulsos do Id, agressivos e egoístas, que tendem à satisfação irrefreável e total, e as proibições do Superego, que impõe todas as restrições e limitações da moral e da civilização.
Neurose: Causada por instintos reprimidos pelo princípio de realidade, que não conseguem se “sublimar” pelas em obras de arte, resultados científicos, realizações tecnológicas, educativas ou humanitárias, etc.


LISTA DE EXERCÍCIOS 3 - GABARITO


Questão Um – Como o entendimento de “desencantamento do mundo” está ligado às ideias positivistas?
Para Weber, não há comunicação entre o espírito finito e o espírito infinito de Deus, logo, não seria preciso mais agradar os espíritos para resolver os problemas; bastariam a razão e meios técnicos. O positivismo afirmava, de forma diferente, o mesmo entendimento, ou seja, pregavam a ciência como único meio de resolver todos os problemas humanos e sociais, afirmando que qualquer concepção idealista ou espiritualista deveria ser combatida.
Questão Dois – Explique a afirmação: “Weber inverte a tese do materialismo histórico de Marx”.

Para Karl Marx, a estrutura econômica seria fator determinante da superestrutura das idéias, sendo que Weber afirma justamente o contrário ao afirmar que o capitalismo (estrutura econômica dominante) é fruto não intencional da ética calvinista (que é parte da superestrutura), ampliando e desdogmatizando a posição marxista através dos fatos históricos. Em suma, Weber aceita que termos econômicos influenciam a história, mas rejeita a metafisicização e a dogmatização de tal perspectiva.

Questão Três – Qual a diferença do movimento chamado “pragmatismo” para o empirismo clássico?

O pragmatismo é um movimento filosófico que surge nos EUA no final dos século XIX. É uma forma de empirismo, em que a experiência surge como abertura para o futuro, previsão e projeção, norma de ação. Com efeito, enquanto o empirismo tradicional, de Bacon a Locke, de Berkeley a Hume, considerava válido o conhecimento baseado na experiência e a ela redutível - concebendo a experiência como a acumulação e organização progressiva de dados sensíveis passados ou presentes -, para o pragmatismo a experiência é abertura para o futuro, é previsão, é norma de ação;

Questão Quatro – No que consiste a fenomenologia de Husserl?

Ciência dos fenômenos voltada à análise e a descrição das essências (que são as coisas), ciência de experiência, não, porém, de dados de fato. Método para voltar às próprias coisas, em contraposição à aceitação de conceitos só aparentemente justificados. Tem como ponto de partida dados indubitáveis, evidências estáveis e, com base neles, construir edifícios filosóficos. "Sem evidência não há ciência" (Hr). Tem por objetivo descrever os modos típicos com os quais os fenômenos se apresentam à consciência.

Questão Cinco – Qual é a “missão” da filosofia, no entendimento de Santa Teresa Benedita da Cruz?
Edith Stein afirmava que “uma compreensão racional do mundo, só pode ser alcançada pela razão natural e sobrenatural conjuntamente”, ou seja, a filosofia deve ser aberta à teologia e pode ser integrada por esta, já que a razão não pode dar a verdade total e absoluta. A filosofia cristã, por sua vez, tem como tarefa mais elevada a de preparar o caminho para a fé, sendo a fé uma virtude sobrenatural e conhecida também como “luz escura”, pois concede a aceitação de conhecimentos que não possuem evidência intelectiva. O progresso do intelecto consiste no estabelecimento mais forte da fé sendo que a fé é trevas para o intelecto e, todavia, ela é um progredir, para além dos conhecimentos racionais, na direção da única Verdade.
Questão Seis – Explique o conceito de “dasein”, proposto por Heidegger.

O Dasein seria aquele ente (o homem) que se propõe a pergunta sobre o sentido do ser e que já está sempre em uma situação, jogado nela, ou seja, ser-aí. Não pode ser reduzido a objeto puro e simples no mundo, pois jamais é uma simples presença, uma vez que ele é precisamente aquele ente para o qual as coisas estão presentes.  A essência do Ser-aí consiste em sua existência. O Dasein é “poder ser”, que o possibilita a atuar, projetar e, consequentemente, o homem pode escolher-se, isto é, pode conquistar-se ou perder-se. Neste sentido, o Ser-aí é "o ente que depende de seu ser" e "a existência é decidida, no sentido da posse ou da ruína, somente por cada Ser-aí individual".

Questão Sete – No que consiste a analítica existencial, proposta por Heidegger?

Análise das estruturas da existência. Consistem em três estruturas, primeiramente o ser-no-mundo (traço típico do homem) em que o homem está no mundo e deve fazer do mundo o projeto das ações e dos comportamentos possíveis do homem. Ser-com-os-outros, pois não há "um sujeito sem mundo" e, ao mesmo tempo, não existe "um eu isolado sem os outros", sendo a existência constitutivamente abertura, desde a origem os outros "eus", como tais, participam do mesmo mundo no qual eu vivo. Por fim, o Ser-para-a-morte, que é a existência autêntica, em que há a compreensão da impossibilidade da morte como possibilidade da existência, e somente assumindo essa possibilidade com decisão antecipada, o homem encontra seu ser autêntico.

Questão Oito – Qual a diferença entre o tempo autêntico e o inautêntico para Heidegger?

O tempo autêntico é o da existência autêntica, em o futuro é um “viver para a morte” não envolvido apenas pelas possibilidades mundanas, não aceitando passivamente a tradição do passado, apenas confiando nas possibilidades que a tradição oferece e revivendo a possibilidade do homem que já foi e vendo o presente como instante que decide o seu destino. Já o tempo inautêntico, da existência inautêntica, o futuro tem como preocupação apenas o êxito, já no passado, aceita passivamente a tradição e o presente é absorvido constantemente pelas coisas a fazer, não decidindo seu destino e ligado aos significados do tempo (databilidade).

Questão Nove - O que o existencialista Karl Jaspers quis dizer com a frase "naufrágio da existência"?

Para Jaspers, "a verdade é algo infinitamente maior que a exatidão científica" e se encontra na transcendência, que é inatingível pelo conhecimento científico e que se revela nos "sinais" das situações-limite (cifras da transcendência). Portanto, a existência remete necessariamente à transcendência e nos leva ao naufrágio, por não se ter acesso a uma linguagem clara em relação ao transcendente. Portanto, o existir é um transcender na liberdade, que abre o caminho em meio a um conjunto de situações históricas concretas e a transcendência revela-se nas "situações limites", sendo limite algo que transcende a existência.

Questão Dez - Compare o conceito de angústia proposto por Heidegger e o de náusea, proposto por Sartre? (Nessa questão pode-se usar 8 linhas)

Para Heidegger, a angústia é o sentimento do ser-para-a-morte, em que o homem se encontra diante do nada de sentido, conclamando a uma aceitação da própria finitude e negatividade, vivendo uma existência autêntica que é a existência angustiada, que dá ao individuo a possibilidade de aceitar e permanecer fiel ao próprio tempo, não procurando uma fuga para escapar à angústia ocupando-se muito com as coisas e afundando no reino do se. Já para Sartre, as coisas seriam gratuitas e sem importância para resolver as questões existenciais do homem e, ao se perceber dessa gratuidade das coisas e de que o homem é reduzido à coisa e submerso nas coisas, surge o sentimento de náusea. A náusea é o sentimento que invade quando se descobre a contingência essencial e o absurdo do real.

Questão Onze - Explique a escolha de Sartre para o título de uma de sua mais importante obra, o Ser e o nada?

Para Sartre, a consciência é sempre consciência de algo, de algo que não é consciência, portanto "é um nada de ser e, ao mesmo tempo, um poder nulificante, o nada", pois os objetos do mundo são contingentes e gratuitos. A Consciência, portanto, está no mundo, mas é radicalmente diferente dele. Porém, a consciência não está sujeita ao determinismo (como uma planta), é livre e sem essência fixa, sempre no campo da possibilidade, pois a existência precede sua essência, o que impede uma possível explicação de uma natureza humana dada e não modificável. O homem está condenado a ser livre e, logo, o homem não é um ser, mas o ser do homem, ou seja, o seu nada de ser.

Questão Doze - No que consiste a chamada mística de Wittgenstein?

Wittgenstein concordava com os teóricos da filosofia da linguagem, como Russel, de que a ciência representa projetivamente o mundo e a linguagem é a representação projetiva da realidade, entretanto, além da ciência e do mundo, há o inexprimível que é místico. Para ele, “o sentido do mundo deve se encontrar fora dele". A ciência seria incapaz de responder os problemas da vida e mesmo que todas as possíveis perguntas da ciência recebessem resposta, os problemas de vida não seriam respondidos. Tudo o que conta na vida humana seria precisamente aquilo sobre o qual, no seu modo de ver, deve-se calar.



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